REVIEW: Mushishi, de Yuki Urushibara

Este é um daqueles desenhos um tanto peculiares de se falar sobre, uma vez que ele sai e muito do padrão pré-estabelecido para animações japonesas: com muita ação, lutas, sangue e, claro, fanservice desnecessário. Mushishi  não tem nada disso, pelo contrário. É muito parado, monótono, não tem nenhum tipo de ação, e a história avança muito lentamente, se é que avança para algum lugar. Esse é o principal fato para as pessoas desgostarem dessa obra. Este tipo de animação gera impressões controversas, seguramente não é para todos. É mais um da série "ame-o ou odeie-o".

Porém, Mushishi aborda temas extremamente maduros, relevando todos aspectos que podem ser considerados negativos. Vamos ver?


Em nenhum episódio de Mushishi há continuidade. Cada episódio mostra uma história fechada, com um desfecho geralmente triste. Podemos, por mais louco que possa parecer, começar a assisti-lo por qualquer episódio da primeira temporada, porque não existe uma linha de tempo muito bem definida na série, e cada episódio é auto conclusivo e não tem nenhuma relação direta com algum episódio anterior.*  Vamos fazer isso agora?  Se você ainda não o assistiu, comece com um episódio qualquer. Se você está a fim de ver mesmo qual é a desse desenho recomendo, antes de ler esse texto, que dedique seus próximos vinte minutos com o episódio doze, Peixe de Um Olho, de Mushishi:


Ou não, não assista. Creio que qualquer possível spoiler que você poderá ler aqui não irá atrapalhar a sua experiencia com esse anime, se você pretende assisti-lo no futuro.

Sugeri o episódio doze por ser o principal, que explica toda a história de Mushishi, e bem poderia ser o primeiro episódio da série. Ou o ultimo, para quem gosta de suspense. Assistindo Mushishi você vai perceber que pode começar a assistir pelo primeiro ou decimo episódio casualmente e vai se sentir bem com o conteúdo dos episódios, e nem um puco perdido em relação a história.
Primavera
Mas poder assistir os episódios aleatoriamente é apenas um dos aspectos incomuns em Mushishi, se acompanhar de perto vai perceber alguns detalhes mais interessantes ainda sobre a série. Antes, precisamos falar do seu argumento. No que tange a história, ela se volta a um único personagem: Ginko, um nômade, que viaja sem rumo pelas de florestas e vilarejos do Japão de séculos atrás, para descobrir diferentes tipos de pessoas, lugares e mushis. "Mushis" são seres vivos, porém não são nem vegetais e nem animais, que podem ser vistos apenas por algumas pessoas. Ginko pode vê-los, e usa isso para ajudar as pessoas que sofrem influências - boas ou más - desses mushis, em troca de informações e artefatos sobre mushis, comida ou moradia.
Verão
Na sua infância, Ginko sofreu uma influência de um mushi, que fez ele perder sua memoria, a cor de seus cabelos e seu olho esquerdo, que passou a ser um buraco negro que atrai mushis. Essa habilidade de atrair mushis faz com que ele não possa permanecer por muito tempo em um único lugar, pois atraí-los faria desequilibrar o equilíbrio ecológico do lugar onde ele está. Esse é o motivo pelo qual Ginko é nômade e solitário (aliás, na segunda temporada há um episódio onde ele é o único personagem mostrado, e as únicas e pouquíssimas falas que existem são as dele falando com sigo mesmo).
Outono
Todavia, Mushishi não fala só sobre o drama de um homem solitário que não sabe nada sobre si nem sobre o seu passado. Ele aborda variados temas: Alzheimer, demência e depressão; a paz de espirito; o preconceito; a morte e a vida; a preservação da natureza... Principalmente sobre preservação da natureza e sobre a superação e aceitação da morte, que permeia toda a obra. Mas tudo isso é mostrado de forma alegórica, através de metáforas. Um emaranhado de simbologias e metáforas subjetivas, que às vezes torna difícil compreender a mensagem. Mas nada que não possa ser compreendido com um pouco de reflexão.

O que eu mais prezo quando eu assisto, ouço, ou leio algo, é a mensagem que aquilo quer passar. Se não haver mensagem, não merece ser apreciado. Em todos os 50 episódios de Mushishi - fora os especiais de quarenta minutos - há muitas mensagens.  Creio que a mensagem principal de Mushishi é a de se manter tranquilo e racional diante das adversidades da vida. No melhor estilo estoico.

Inverno
A trilha sonora de Mushishi também merece destaque, combina perfeitamente com o que o anime propõe: a tranquilidade. A abertura, os encerramentos, e o som dos mushis contribuem para que o espectador mergulhe no oceano calmo que é esse anime. A cada enceramento sentimos aquele frio na espinha, sabe? A abertura - que se chama "Cansão dos Pés Cansados" - é magnifica, assim como "Shiver". O visual e o estilo da animação são simples, porém ótimas. A beleza das paisagens de Mushishi é impressionante: rios, montanhas, florestas e plantações, oceanos e pântanos...

Uma anime bucólico que convida à reflexão tranquila através de histórias dramáticas. Trilha sonora, aberturas e enceramentos espetaculares, que fazem você sentir uma inexplicável sensação de paz. Um anime simples, sem a ação de Bleach, sem as lutas de One Piece, e sem a viadagem de Naruto.

Para alguns Mushishi só é um desenho melancólico e monótono de fábulas ecológicas. Para outros Mushishi é um desenho profundo, que propõe reflexão. Para mim ele é muito mais esse segundo. E é uma grande história. Fiquei impressionado não ter ouvido falar dele antes de tê-lo assistido. Acho que não vou encontrar outro anime tão bom quanto esse.

e Primavera...
“O mundo é cheio de criaturas desconhecidas pelo ser humano.”

O mangá de Mushi-shi, lançado no ano de 1999, foi finalizado em 2008 com dez volumes encadernados no japão. Ganhou adaptação para anime em 2005, e contém duas temporadas. A primeira, contém vinte e seis episódios. E a segunda, lançada em 2014, contém 24 episódios, e mais três especiais de quase uma hora cada. Também foi adaptado para live-acion, em 2007, com um filme exibido nos cinemas do japão. No Brasil, em 2008, a primeira temporada com dublagem brasileira foi exibida pelo canal Animax (extinto por aqui desde 2011).


*Para o bem da verdade, há sim, na sequência dos episódios da primeira temporada, algumas referências a episódios anteriores. Porém, são muito poucas, duas, se me lembro bem. Elas não te impedirão de assistir, pelo menos a primeira temporada, na sequência que você quiser.

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