Memórias de Poliestireno (ou, se preferir um termo mais simples aprendido na aula de química, poli-metil-2-metilpropenoato). "Memórias de Plástico" é uma das minhas apostas dessa temporada. Para quem não sabe, o plástico é um material muito empregado na fabricação de produtos descartáveis. E carros são como lanchas, motos são como jet-skis e memórias são como produtos descartáveis. E assim como no trânsito da cidade, no mar também ocorrem acidentes. Com essa formidável comparação vamos retornar com as famigeradas "Primeiras impressões" ao blog.

Um "futuro" onde robôs são comercializados para suprir as necessidades afetivas dos humanos. Robôs que são chamados de "Giftia", e fabricados pela empresa de produção de androides Sai Corporation. São muito mais avançados tecnologicamente que uma I.A., pois não tem apenas a inteligência, mas também a aparência, sentimentos e necessidades humanas - isto é, são humanos perfeitos (que comem, choram, urinam, defecam, e transam), só que são "humanos" fabricados. Porém há um porém: esses robôs-humanos têm um tempo de vida pré-definido (tipo uma data de validade, como um produto comum), que é de mais-ou-menos nove anos (ou 81.920 horas, ou 202. 456 minutos, ou 563. 493. 203 segundos - vai depender do tipo de unidade de medida de tempo que preferir usar). Os Giftias que não são desativados após esse período tem suas memórias corrompidas e personalidade resetada (ou seja, todas as características adquiridas com o proprietário são perdidas).

É válido perguntar, já que são robôs perfeitamente "humanizados", se os "Gifitias" despertarão os desejos mais manifestados pela humanidade: o desejo de sobrevivência, de vida, de não-morte? serão eles capazes de aceitar a sua data de validade? (e você, que também tem uma data de validade, está preparado para morrer?)

Era exatamente essa pergunta que o suposto personagem principal, o humano Tsukasa, se fazia ao se dirigir para a empresa que o admitiria. Porém, ele não sabia  para que tipo de empresa estava se dirigindo, pois é um vagabundo desprovido das generalidades minimas sobre a empresa.

Chegando lá, Tsukasa e nós ficamos sabendo que ele trabalhará recuperando os Giftias antes de chegar sua data de validade, uma espécie de coveiro de robôs. Sua única função é supervisionar o recolhimento de robôs de sua parceira de trabalho, que no caso é a Isla (uma Giftia). 

Trabalho simples, emboras alguns proprietários de Gifitias sejam incapazes de cortar relações com os os robôs (como a velhinha deste episódio).

É fácil fazer alguém entender que um robô humanizado não é uma pessoa, mas apenas mais um produto mercantilizado pelo capitalismo para satisfazer os mesquinhos desejos de afeição humana, e, assim como qualquer outro produto, tem de ser  jogado fora após o tempo de vida útil?
Essa é a grande pergunta de que anime nos faz, que não tem muito sentido para nós, mas tem muito na realidade tecnológica japonesa. 


É importante falar que Plastic Memeries tem todos os aspectos obrigatórios do cliche: 
  • Amor à primeira vista
  • Humor não muito bom
  • Protagonista imbecil
  • E, em pequena medida, o já muito conhecido fanservice
Isso não quer dizer que o anime seja ruim, ok?

Pelo contrário, apesar disso tudo, o episódio primeiro foi bom. Ao contrário do mais que tem de ficção cientifica, que preza a complexidade e o futurismo exagerado, esse começo fluiu de forma simples, dinâmica  e não muito futurista. 

Na verdade, praticamente nada futurista: atualmente, principalmente no Japão e Coreia do Sul, não utilizam robôs para diversas coisas? Desde a masturbação até o monitoramento de crianças? Também não utilizam robôs para conversarem com velhinhos chatos que ninguém quer conversar? SIM! 

Então esse anime não é futurista, mas sim um perfeito retrato da contemporaneidade!

É da cultura Japonesa criar laços com robôs (garotas virtuais, no caso dos Otakus), e não sentir muita necessidade de calor humano. Crianças no Japão preferem robôs à ursinhos de pelúcia. Japoneses preferem fazer sexo com robôs do que com humanos, logo não procriam, culminando o fim da espécie Japonesa. E pesquisas mostram que os japoneses estão cada vez mais isolados socialmente graças aos robôs.

Então, este anime não passa de uma admirável sátira da realidade japonesa!

Eles nos faz questionar uma coisa: é mais preferível nos relacionarmos com robôs do que com pessoas reais? Cada um tem sua resposta. Até vocês, acho que vão concordar comigo, preferem se masturbar vendo uma garota desenhada do que uma real. Não é, seus punheteiros?


Voltando ao anime: é bom. Não é espetacular, porém é bom (um pouco simples demais, porém bom). Bom, é bom. A estética da animação é muito agradável, e a ideia de robôs em convívio com seres humanos, embora não inédita, foi muito bem apresentada nesse início. A desconstrução do nosso conceito estético de robôs (aparência de máquinas, coisas mecanizadas, que falam tudo silabicamente), embora não seja inédito também, é algo positivo. 

Se a primeira impressão é a que fica, é improvável que esse seja o melhor anime da temporada, porém está muito longe de ser o pior (até porque anime ruim nessa temporada é o que não falta).

Para finalizar, dá para imaginar o porvir do enredo (previsível!): 
  • Demostração do processo melancólico de desapego dos proprietários (meh) 
  • Isla se apaixona pelo Tsukasa, porém tem a memória resetada, e esquece que está apaixonada (muito meh)
  • O processo de fabricação de um Gifitia nunca será revelado (meh)
  • Os Giftias são, na verdade, humanos obrigados a acharem que são robôs (seria interessante, muito interessante).
Também podemos imaginar os Giftias querendo reivindicar sua independência, pois tem sentimentos e, de certa maneira, são humanos. Começará uma guerra de Giftias contra os humanos, e a primeira lei de convívio humano com robôs, feita pelo nosso amigo Isaac Asimov, será quebrada:

Primeira Lei: um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um humano seja ferido (talvez seja por isso que a Isla não apelou à violência para recolher a robozinha da venhinha XP).

Profecias à parte, sinceramente estou muito curioso de como será desenvolvida a trama nos proximos episódios. Bem recomendável, por hora. 

P.s.: Como na ultima temporada não falei sobre nenhum anime, irei escrever sobre pelo menos mais dois animes dessa temporada. Preparem-se para a overdose de primeiras impressões.

P.s.²: Alguém que sabe leitura labial pode me falar o que a Isla falou para a menininha robô no final do episódio? Será que ela falou "Não existe céu nem inferno, você irá para o mágico mundo da Disneylândia"?

3 comentários:

  1. Bem, animes "novos" são meio que um caso perdido pra mim, 95% são extremamente ruins e muito valorizados, "modinhas", então já não perco meu tempo vendo animes novos, o último foi Akame Ga Kill, mas conhecendo o seu senso crítico como eu conheço, se você falou que é "bom", então coisas boas podem vir desse anime, vou conferir...

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  2. Assisti o primeiro episódio, e esse parece ser um anime bem triste. Mas se todos os episódios explorarem apenas a "demostração do processo melancólico de desapego dos proprietários", vai ser algo chato e repetitivo. Mas acho que não será isso...

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  3. Só eu que lembro da musica "fake plastic trees" do radiohead ao assistir esse anime?

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